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NOTA OFICIAL DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+ DE DESCONTENTAMENTO Capa do caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo desrespeita comunidade LGBTI+ com homofobia, em pleno mês internacional do Orgulho LGBTI+

Desde sábado, o caderno Ilustrado do jornal Folha de S.Paulo vem sendo motivo de críticas pela publicação de matéria sobre a nomeação do novo Secretário Especial de Cultura.

Para criticar a nomeação do ex-ator Mário Frias, a Folha escolheu montar uma capa pretensamente jocosa. A “graça” ficou por conta de uma foto sensual com seminudez do novo secretário.

https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2020-06-20/com-foto-de-frias-seminu-folha-chama-secretario-de-novo-homem-do-presidente.html

Lembramos que esse jornal, por diversas vezes, atuou como aliado das causas LGBTI+. Neste difícil momento para o nosso país, a Folha tem cumprido importantes papéis em denunciar as atitudes do atual governo de extrema direita, que são desrespeitosas com a vida, com a democracia e impiedosas com os mais explorados e oprimidos, os que mais têm sofrido com a pandemia do novo Coronavírus e da doença Covid-19.

Considerando o grau de importância do jornal, sua atitude foi ainda mais grave. Faltou responsabilidade. A homofobia da capa está na sexualização do novo secretário, com a foto associada à frase “O novo homem do presidente”. Com tanta coisa sobre a Cultura na gestão do governo para criticar, por que escolheram uma foto seminua do Mario Frias? O motivo da foto, da posição do então ator ou características do seu corpo não foram mencionados uma só vez em toda a matéria. Isso evidencia como o objetivo da capa foi apenas de fazer uma “brincadeira”.

A homofobia é altamente naturalizada no convívio social. Encontramos homofobia nas “brincadeiras”, nos rituais, na educação formal etc. São diversas as formas cotidianas de reafirmação do papel do homem, da sua diferença em relação às mulheres e, junto a isso, da heterossexualidade. Por isso também observamos a reação à matéria. Mesmo entre ambientes mais democráticos, em meio à esquerda no aspecto político da sociedade, houve grande tolerância com a homofobia contida na capa do caderno. O que seria, pelo menos, nítido para muitos se fosse um caso de machismo, por exemplo, passou despercebido por ser moralismo homofóbico.

Isso mostra a importância da questão sexual e de identidade de gênero em nossa sociedade. É mister lembrarmos que a eleição do então presidente da República, com sua pauta fundamentalista e a ascensão do seu movimento fascista se deve muito à homofobia. Foi utilizando desta atitude deplorável que o atual presidente ficou conhecido para muita gente. Mentiras como a da distribuição de mamadeiras de piroca nas escolas e o Kit Gay ajudaram o presidente a se eleger.

Sabemos que o objetivo do jornal foi de criticar o governo. A intenção era correta. Mas as armas foram erradas. Ao utilizar as armas do inimigo nos tornamos parecidos com ele. A força da resistência democrática está em ser diferente. Por isso, enquanto eles são insensíveis à morte, os opositores ao governo fascista devem defender a vida. Quando se utiliza da homofobia contra os homofóbicos, quem sai ganhando é a própria homofobia. Buscar desmascarar um homofóbico ou machista denunciando sua hipocrisia é uma forma de reforçar a própria opressão.

É importante registrar que durante a atual pandemia, o assassinato de pessoas Trans cresceu 49% em relação ao mesmo período no ano anterior. Há pesquisas que comprovam que o impacto do isolamento social é maior entre pessoas lésbicas, homossexuais, bissexuais, travestis, transexuais, em especial pelo comprometimento da saúde mental. A taxa de desemprego no primeiro trimestre foi quase o dobro entre pessoas LGBTI+ do que a taxa geral na sociedade, sendo 21,6% contra 12,2%. A nossa vida não é motivo de piada.

Por fim, lembramos que no próximo dia 28 de junho comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, data na qual nos lembramos da rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969, em Nova Iorque (EUA). Tal episódio envolvendo a Folha deveria servir de alerta aos pequenos (ou grandes) aspectos do retrocesso que habitam em todos nós na sociedade, independente de idade, religião, orientação política etc..

Nós LGBTI+ conquistamos visibilidade, direito ao casamento, e até a homofobia foi criminalizada – muito recentemente, conquistas estas garantidas em sua amplitude através do poder judiciário, em especial na mais alta corte de justiça do país, o Supremo Tribunal Federal (STF), o que é bom lembrar.

Triste fato é que mesmo assim, ainda não gozamos da garantia ampla dos direitos conquistados.

A história se encarregará de mostrar quem foram aqueles que não se mantiveram calados ante aos ataques aos direitos humanos e a cidadania de todos e todas de forma integral.

23 de junho de 2020

Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+

Pr. Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ em MG
Coordenador Nacional de Notas e Moções da Aliança Nacional LGBTI+

Lucas Brito
Ativista LGBTI+
Mestrando em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB)

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Sobre a Aliança Nacional LGBTI+ – A Aliança Nacional LGBTI+ é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, com representação em todas as 27 Unidades da Federação e representações em mais de 150 municípios brasileiros. Possui 47 áreas temáticas e específicas de discussão e atuação. Tem com missão a promoção e defesa dos direitos humanos e da cidadania da comunidade brasileira de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTI+) através de parcerias com pessoas físicas e jurídicas. A Aliança é colaboradora do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. É pluripartidária e atualmente tem mais de 1000 pessoas físicas afiliadas. Destas, 47% são afiliadas a partidos políticos, com representação de 27 dos 33 partidos atualmente existentes no Brasil. https://aliancalgbti.org.br/

Conheça a Central de Denúncias LGBTI+ https://bit.ly/2vRiXyr

Nota publicada em 23/06/2020.

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