NOTA OFICIAL DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+
Abolição inacabada: Ressignificação do lugar do Povo Negro como protagonista de sua História
O Brasil aboliu a escravatura no ano de 1888, tendo em sua composição histórica mais de trezentos anos de subjugo de pessoas pretas e seus descendentes onde inúmeras vezes eram submetidas às torturas, flagelos e estupros além do trabalho escravo, com a libertação essa parcela da sociedade brasileira fora enxotada para as periferias das cidades que construíram com as bases da sociedade brasileira, bem como grande parte de seus tesouros. Hoje ainda é gritante os resquícios do período da escravatura, onde a vida negra não vale nada ou muito pouco. No Final das contas sempre tentaram tirar o protagonismo de luta do povo negro. Colocam a Princesa Isabel como heroína por ter assinado uma Lei na qual a abolição só ficou no papel.
Ainda hoje somos marginalizados, excluídos do processo social, nossos corpos violados (somos a população com o maior número de vítimas de homicídios no país) e mesmo sendo maioria, continuam nos tratando como minorias e ceifando nossas vidas, tal qual ocorrido com João Alberto Silveira Freitas, homem negro que foi espancado até a morte por funcionários da empresa Carrefour em Porto Alegre, Rio Grande do Sul na véspera do dia da Consciência Negra (19).
João Alberto morreu perto da data da morte de Zumbi. João Alberto não era qualquer pessoa, era o amor de alguém, um irmão, um filho, a perda da vida de João Alberto não saiu barato para os seus familiares e amigos, mas assim como Zumbi, João Alberto torna-se memória, torna-se consciência de que ainda há muita luta pela frente por justiça e respeito para as pessoas negras.
No dia 20 de Novembro, um dia após o bárbaro crime, é comemorado o dia da Consciência Negra. Esse dia se contrapõe ao dia da abolição da escravatura, pois esta que aconteceu apenas no papel não garantiu nenhum direito ao povo negro, entretanto no dia 20 é relembrada as lutas e também a morte de Zumbi dos Palmares que comandou a resistência do Quilombo dos Palmares frente aos crimes cometidos contra pessoas negras no período escravocrata. Zumbi, homem negro, lutou junto aos outros quilombos contra as políticas vigentes no país que não viam valor nas vidas negras.
Fato é que a abolição assim como citada supra segue inacabada e suas consequências alarmantes. Nos são negados direitos básicos, como saúde, moradia, educação e trabalho. Querem nos manter a todo custo na condição de subserviência. Enquanto essas mazelas sociais continuarem nos acompanhando, o dia 20 de Novembro nada mais é que um dia de afirmação de luta e resistência do povo negro.
Essa dívida histórica que o Brasil tem com o povo negro só ressalta o que nos é público e notório: a desigualdade entre negros e brancos fundamentada no racismo estrutural.
Ainda precisamos avançar muito para minimizar os impactos sofridos pela população negra. Precisamos de mais representações negras nos espaços de construção de políticas afirmativas. Precisamos construir uma perspectiva mais pragmática, dialogar com os poderes públicos sobre o atual contexto e as impossibilidades que este apresenta para o nosso tão sofrido povo negro.
“A carne mais barata do mercado, é a carne negra”, esta não é apenas a letra de uma música, mas a realidade da vida no Brasil, onde os corpos negros são apedrejados em praça pública, são assassinados a bel prazer de uma cultura ainda escravocrata e que insiste em permanecer entre nós. A Aliança Nacional LGBTI+, vem expressar seu repúdio ao assassinato do João Alberto Silveira Freitas, se solidarizando com os familiares da vítima, colocando-se à disposição para prestar todo o suporte que se faça necessário.
Se faz urgente que empresas públicas e privadas promovam ações de sensibilização no tocante a população Negra e adotem em suas práticas punições exemplares para com aqueles colaboradores que mantenham condutas racistas.
Ainda mais urgente se faz que também o poder público desenvolva ações contínuas de monitoramento afim de que se observe o integral cumprimento das sanções previstas nos textos legais, não sendo permitido mais que muitos crimes de racismo sejam subnotificados e aqueles que os praticam sigam impunes!
A luta continua pelo nosso lugar de fala e de direito, pelo nosso protagonismo histórico, pela nossa ancestralidade.
Zumbi viverá, Tereza de Benguela viverá, João Alberto viverá.
20 de novembro de 2020, dia da Consciência Negra
Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+
Guilherme Silnato
Coordenador da Área Étnico-racial da Aliança Nacional LGBTI+
Pr. Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ em MG
Coordenador Nacional de Notas e Moções da Aliança Nacional LGBTI+
Letícia Ferreira Imperatriz
Coordenadora Municipal da Aliança Nacional LGBTI+ em Montes Claros