NOTA OFICIAL DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+
“Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2.14a) “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”.
Nos últimos cinco anos, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC, conselho no qual se encontra a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), órgão que responde pela igreja católica apostólica romana no Brasil, desenvolvem um projeto de teor ecumênico chamado “Campanha da Fraternidade”. A cada ano, um tema é apresentado para ser debatido e divulgado pelas instituições aderentes.
CNBB lança Campanha da Fraternidade de 2021, com foco no diálogo (correiobraziliense.com.br)
Sempre nos deparamos com temáticas de interesse comum, tais como a água, a preservação da Amazônia, etc. Já, neste ano, 2021, com o lema: “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” a referida campanha trouxe à sociedade a oportunidade de reflexão de assuntos como violência contra mulheres, negros, indígenas, população LGBTI+, entre outros.
Porém ao que parece, a temática escolhida esbarrou em assuntos que despertaram a revolta de setores considerados conservadores reacionários.
″A Campanha da Fraternidade põe o dedo na ferida″ | Notícias e análises sobre os fatos mais relevantes do Brasil | DW | 10.02.2021
O diálogo ecumênico, assim como o diálogo inter-religioso, revela-se importante caminho de promoção da paz entre as diferentes denominações cristãs e religiosas no Brasil. Diante da polarização política, causadora de discursos ofensivos e da perseguição virtual e real às pessoas que expõem postura diferente da maioria hegemônica, faz-se necessária a abordagem da diversidade sexual e de gênero, a valorização da vida e da dignidade da pessoa humana, bem como a denúncia das violências de gênero presentes em nossa sociedade. Neste aspecto, o texto-base da campanha em questão reflete os nossos anseios e o incentivo à transformação das ações e pensamentos através do diálogo e do compromisso com o amor.
Através da proposta de cooperação entre diversas Igrejas Cristãs do Brasil, acredita-se na promoção da cultura da paz, certos de que jamais será cansativo dizer e afirmar que vivemos tempos considerados sombrios, tempos difíceis, onde a luta pelo respeito, pelos direitos humanos e pela dignidade da pessoa humana deva ser pauta basilar para que se construam caminhos para novos tempos, caminhos que rumem a uma nova esperança.
Há aqui a grande necessidade de reflexão além das propostas da atual campanha da fraternidade, e tal reflexão passa por uma viagem pela história, onde em tempos longínquos aqueles considerados diferentes eram perseguidos, direcionados à “fogueira”, muitas vezes pela própria igreja católica, uma das instituições que hoje propõe esta temática, de forma a contribuir para que tamanha violência como a que vemos hoje não mais ocorra.
O caráter do Cristo, tão apregoado pelos setores que hoje perseguem os entusiastas da CF (Campanha da Fraternidade), demonstra exatamente o oposto das ações praticadas pelos mesmos, fazendo com que se perceba que se manifestam como seres incapazes de seguir o que o apóstolo Paulo pregou ao dizer “sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1).
Este mesmo Cristo que tanto dizem ser a referência de conduta, fora perseguido, viveu como refugiado para que não fosse morto, foi publicamente achincalhado, viveu na pele as marcas da xenofobia, da intolerância, ações absurdas advindas daqueles que seriam os representantes do seu povo, pelos representantes da religião. Tal fato não há como ser comparado de outra maneira senão com a vivência atual de pessoas em situação de vulnerabilidade, seja ela econômica, social, religiosa, étnica ou de gênero.
Sendo assim, a Aliança Nacional LGBTI+ e as demais entidades que abaixo subscrevem esta nota parabenizam o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Brasil com todas as instituições envolvidas no planejamento e desenvolvimento da presente campanha da fraternidade pela coragem de enfrentar conservadorismos retrógrados, mostrando que não há a necessidade de concordância com a vivência de outrem para que se defenda sua liberdade de viver, de ser respeitado e ter sua dignidade resguardada.
Neste passo desejamos auxiliar na divulgação desta campanha, valorizando atuações de combate às injustiças sociais e às perseguições descabidas e destoantes do que são considerados como centro do que está descrito no livro sagrado dos cristãos: o amor, o respeito, a tolerância!
Seguimos assim certos de que a cultura do ódio será derrotada pelo diálogo, que promove a unidade na diversidade!
19 de fevereiro de 2021
Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+
Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+
Coordenador Titular da Aliança Nacional LGBTI+ em Minas Gerais
Silvia Kreuz
Coordenadora do grupo Mami – Mães de Amor Incondicional